terça-feira, 30 de abril de 2019

Práticas de Gestão Estratégica de Custos: Uma Análise de Estudos Empíricos Internacionais


No contexto da nova economia global que emerge a partir da década de 1980, autores como Johnson e Kaplan (1987), Berliner e Brimson (1988), Bromwich e Bhimani (1989) e Shank (1989), entre outros, começaram um amplo debate sobre a necessidade de revitalizar os sistemas de contabilidade gerencial, uma vez que os mesmos tinham perdido sua relevância frente às várias mudanças subjacentes à época e às novas demandas informacionais dos gestores. Tais mudanças têm sido caracterizadas pelo crescimento da complexidade e desafios ambientais impostos às organizações. A tecnologia em geral, e a de informação em particular, são elementos citados como principais alavancadores dessas mudanças. É nesse particular momento da gestão organizacional que surge a gestão estratégica de custos - GEC - com a geração de informações diferenciadas e específicas à sustentação da gestão estratégica dos negócios, com foco especial nas informações relacionadas a custos, conforme enfatizam Miller e Vollmann (1985) e Ellram e Siferd (1998). Há que se destacar que esse pensar estratégico da informação contábil teve como uma das principais fontes do seu início o estudo desenvolvido por Simmonds (1981). No âmbito da gestão estratégica de custos, pesquisadores como Shank (1989) e Chenhall e Langfield-Smith (1998) destacam que esse enfoque da gestão de custos passou a contemplar toda a cadeia produtiva, vislumbrando- -se a cooperação como estratégia para se competir. Com base nesse entendimento, a análise de custos evoluiu para novos sistemas de gerenciamento, de modo que pudesse contemplar as exigências e necessidades de um ambiente externo de elevada competitividade. O surgimento de novas práticas de gestão de custos, com focos diferenciados, também teve impulso significativo após estudo de Johnson e Kaplan (1987), os quais caracterizaram as deficiências das práticas até então adotadas.

Após três décadas dessas novas movimentações conceituais na área de gestão de custos, considerando-se o estudo de Simmonds (1981), torna-se necessário verificar se o entendimento dos autores citados e daqueles seguidores da nova tendência se confirmou. Tal confirmação pode se dar verificando se a materialização do conjunto das práticas desenvolvidas e tratadas como as mais adequadas às novas demandas da gestão está referendado pela realidade da prática empresarial. Desta forma, o objetivo deste estudo é identificar, com base em estudos empíricos internacionais, qual o uso das práticas da gestão estratégica de custos pelas empresas. A principal contribuição do estudo é criar um mecanismo de análise da validação empresarial dada às novas teorias de gestão de custos. A procura pelo entendimento dessa validação pode dar oportunidade à reflexão tanto sobre a propriedade das práticas desenvolvidas como à postura e ação dos gestores quanto à utilidade delas. Uma possível contribuição do estudo é provocar que se repense sobre a propriedade dos desenvolvimentos teóricos e sobre a atitude dos gestores nesse ambiente de maiores complexidades. O artigo está estruturado em cinco seções. Inicia com essa introdução, seguida da revisão de literatura relacionada ao tema. Posteriormente, têm-se a apresentação dos procedimentos metodológicos adotados na pesquisa, da exposição e análise dos dados e das conclusões do estudo. Por fim, tem-se a lista das referências utilizadas no desenvolvimento da pesquisa.

Práticas da Gestão Estratégica de Custos


As práticas da GEC são técnicas e procedimentos adotados por empresas, que respondem às novas características ambientais de alta competição e aos novos modus operandi adotados pelas empresas como forma de manterem-se competitivas (Nakagawa, 1991). Algumas características da nova realidade ambiental interna e externa das empresas foram destacadas por Reckziegel, Souza e Diehl (2007), a saber: menores volumes, mix mais variados, menores ciclos de vida, novas estruturas de custos, principalmente nos custos indiretos, menor capacidade de impor preços no mercado, adoção de avançadas tecnologias de produção. Diversos trabalhos tem se dedicado a explorar os aspectos conceituais e práticos da GEC. Todavia, alguns autores argumentam que ainda não há um framework consistente delas Práticas de Gestão Estratégica de Custos: Uma Análise de Estudos Empíricos Internacionais Contabilidade, Gestão e Governança - Brasília · v. 15 · n. 2 · p. 23 - 40 · mai/ago 2012 28 (Coad, 1996; Guilding, Cravens, & Tayles, 2000; Langfield-Smith, 2008). Guilding, Cravens e Tayles (2000) desenvolvem uma análise teórico-conceitual sobre estratégia de alguns dos autores considerados especialistas desses temas, como Porter (1989) e Mintzberg e Quinn (1988) e elaboraram uma lista de 12 práticas somando o conhecimento da estrutura teórico conceitual de estratégia com as concepções do processo de gestão estratégica, sendo elas: (1) custeio dos atributos; (2) avaliação/monitoração da marca; (3) orçamento do valor da marca; (4) avaliação do custo dos concorrentes; (5) monitoração da posição competitiva; (6) avaliação dos concorrentes com base em demonstrações contábeis publicadas; (7) custeio do ciclo de vida; (8) custeio da qualidade; (9) custeio estratégico; (10) precificação estratégica; (1l) custeio meta; (12) custeio da cadeia de valor.

RESUMO

Este artigo tem como objetivo investigar o uso de práticas da gestão estratégica de custos (GEC) identificados por estudos empíricos internacionais. A respeito destas práticas, há uma vasta literatura sobre suas características, benefícios e necessidade de adoção pelas empresas. A premissa do estudo é que a consolidação da adoção das práticas de GEC em nível internacional é uma forma de verificar a validação que é dada pelas empresas aos desenvolvimentos teóricos apresentados pela literatura. Trata-se de um estudo exploratório, com abordagem qualitativa, desenvolvida com o recurso da análise de conteúdo de oito artigos internacionais. O estudo foi realizado no segundo semestre de 2011, composto de três etapas principais: (1) a pré-análise, que se configura na fase de escolha do objeto de análise; (2) localização e coleta de estudos internacionais publicados; (3) análise dos conteúdos desses estudos. Os principais achados da pesquisa indicam disparidades com relação ao grau de utilização de algumas práticas entre os países pesquisados. Apesar de outras práticas figurarem com maior frequência de utilização, existe, no geral, ausência de utilização mais intensiva de várias práticas da GEC, caracterizando uma distancia do que preceitua a literatura.

Referencia teórica: Revista Contabilidade, publicado em 2012.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário